segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

O peso dos nomes

Nomes que tem um significado já introjetado no inconsciente coletivo: Regina (Rainha), Vera (Verdade), Maria (a Mãe de Deus).

As Wandas que me cercavam...

Comecei a anotar isto algum tempo atrás. Não saiu disto!

Agora fiquei pensando nos nomes e nas pessoas. Engraçado, só pensei em nomes femininos e em mulheres que conheço. Alguns casos me assombraram pelas semelhanças, outros pelas diferenças.

Vera é talvez o que mais me chame atenção. É o nome da minha primeira grande amiga para sempre. Minha doce Vera. Minha irmã! Ela me escolheu e acolheu em "tempos de guerra"!

 Eu voltava à escola em que fiz o primário, depois de um período em uma "escola tradicional paulistana", de gente rica, onde fiz uma única amiga: a filha do porteiro, que estudava com bolsa. Uma amizade que também não era das mais fortes uma vez que acabou quando eu saí da escola. Nunca mais nos falamos.

 Lá, além de me sentir o patinho feio: pobre, alta, feia e desengonçada, era para os professores a irmã do Luiz Fernando. Um gênio! O aluno primeiro da classe! Promissor, inteligente, bem relacionado e respeitado. O que fazia de mim, mais uma vez, o patinho feio! Não tão inteligente, nem promissora, nem respeitada...

Minhas maiores lembranças dos anos que passei nesta escola, são dos grandes amores platônicos que cultivei - o Celinho, com sobrenome pomposo, que eu seguia de longe nos intervalos de aulas e com quem falava pelo telefone, alimentando seu ego de menino rico é bonito. Nunca tive coragem de falar com ele pessoalmente. Ele também nunca insistiu. Devia saber quem eu era e talvez tenha rido muito de mim com seus amigos igualmente ricos e bonitos.

Também desta época é a minha lembrança de esperar meu pai ir me buscar na saída da escola. Com seu fusca. Acho que ele ia sempre, já que é tão marcante a lembrança do dia em que ele me esqueceu. Voltei de ônibus. Uma aventura em um ônibus cheio e que eu não sabia ao certo onde deveria descer. Claro que perdi o ponto! Mas só por um. Andei pouco mais de um quilômetro e cheguei em casa inteira e sem ter sofrido nenhum grande trauma. Não me lembro da reação da minha mãe ou mesmo do meu pai, que em algum momento deve ter se dado conta do esquecimento. Eu deveria ter uns doze anos.

Daí também, a lembrança de ter ido fazer um trabalho na casa de uma colega: Maria Beatriz, nome também seguido de um sobrenome de família paulistana rica e quatrocentona. Não me lembro do trabalho, nem direito das meninas, mas me lembro de sentir vontade de ir ao banheiro e de ter me perdido na casa imensa! Da vergonha de não saber como voltar e de não encontrar naqueles corredores, salas, espaços, para quem perguntar...

Além disto, só o fato de decepcionar todos os meus professores de Educação Física, que viam em mim uma atleta promissora até constatarem a minha total inabilidade com uma bola!

Mas, voltamos à Vera! O início de boas lembranças, apesar dos tempos de terra arrasada...

Quando a minha mãe morreu, em agosto de 1972, o meu desconforto na escola tradicional aumentou ainda mais. Além de feia, alta, aquém da inteligência esperada, desajeitada e pobre, juntava-se mais um adjetivo, ainda mais incomum naquela faixa etária: órfã.

Comecei uma campanha em casa. Quero mudar de escola! Não! Não quero ir para um colégio interno (ideia que eu ouvia por trás das portas), não!!!! Semi-interno no colégio batista das Perdizes também não! (por algum tempo, anos depois, eu até considerei que estas ideias não eram de todo ruins). Mas, de qualquer forma, acabou prevalecendo a minha vontade: quero voltar para o Joana! Joana D'Arc, escola particular do bairro, de classe média, pertinho de casa de forma que eu iria a pé. Talvez tenha pesado também, que nos quatro anos em que eu estudei lá, o primário, eu podia não ser a bonita ou rica, mas ninguém era, e, de quebra, eu estive sempre entre as primeiras da classe.

E qual não foi a minha surpresa de que ao voltar para o Joana conheci a Vera. Ela estava na minha classe - melhor, eu entrei na dela, que tinha ido para a escola justamente quando eu saí. Ela era amiga das minhas amigas do primário que continuaram lá, ela era rica, linda e inteligente!!! Como ou até mais - para mim, com certeza, muito mais! - do que as meninas da escola anterior. A diferença? Ela não achava nada disso! Era - e continua sendo - a pessoa mais simples, humilde e generosa que eu conheci na minha vida! Ela não teve ciúmes da intrusa que voltava querendo resgatar as velhas amigas, ela não teve pena da órfã feinha que chegava querendo espaço, ela simplesmente se encarregou de abrir o espaço. Acolheu, integrou, passou inúmeras colas nas chamadas orais de verbos... Abriu os braços e me acolheu! Ampliou meu círculo de amigos, convenceu a todos de que a minha casa era um lugar legal pra se ir, me apresentou a Av. Faria Lima, o Shopping Iguatemi, o milk shake do Jigg's, abriu espaço no seu quarto para noites de conversa mais do que de sono (anos depois ela e a mãe abririam novamente a porta para me receber carinhosa e generosamente em sua casa, em novos tempos de terra arrasada), com ela fui fazer francês na Aliança e ballet clássico na Beth Lidiana. Nunca me deixou me sentir " menor", mesmo quando nesta época descobri também o seu incrível talento para as línguas e para a dança!

Ela foi a primeira pessoa que me tirou de verdade do lugar do patinho feio!!! Fico pensando agora como em tantos anos de convívio, de amizade e de amor, eu não consegui fazer o mesmo por ela! Como a minha amiga genial pode se sentir menos do que qualquer um?!?!

Voltando aos nomes, conheci algumas outras Veras. Nenhuma, nunca, como esta. Mulheres fortes, de posições muito firmes,..Todas inteligentes. Todas firmes em seus desejos. Nenhuma delas, como a Vera. Esta, é única.



5 comentários:

  1. Adorei, e conhecendo as personagens, mais ainda!

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    1. Que bom, querida!!!! Você faz parte disto. Vocês são as queridas personagens da minha vida!

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  2. Gostei muito de conhecer estas tuas reminiscências. Enquanto lia parecia te ouvir falando. Você escreve muito bem. Conte um pouco de sua vida como estudante da História. Beijos, Mê

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