segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Chama o bombeiro!!!!!!

Acho que todas as crianças são mágicas! Encantadoras e mágicas, cada uma da sua forma.

Meu filho mais velho, Pedro, teve a sua forma de encantamento e magia. Claro que por toda a infância e, fazendo algum esforço pra ver, ainda hoje...

Mas, um momento específico pareceu concentrar histórias. Duras, engraçadas, tristes, insólitas... uma combinação da ingenuidade dele com a minha preocupação, inexperiência e amor.

Em um período curto ele foi o protagonista de histórias que eu me acostumei a chamar genericamente de: Chama o bombeiro!!!! E de como nunca fui atendida em meu apelo.

Em 1992 tivemos que mudar de casa de uma hora pra outra. O apartamento onde morei por oito anos, sem nunca ter nenhum problema  com o proprietário, de repente era reivindicado. O dono tinha se profissionalizado como fiador e aquele bem era a garantia dada. Muitos tropeços, muitos furos, muitos "balões" e de repente ele queria vender rápido, antes que fosse tomado pela justiça. Apartamento com uma inquilina com um bebê seria difícil de vender, então, fora inquilina!!!

Procurando com pressa uma casa para alugar, fui morar na "Travessa do Mercadinho". Onde não tinha um mercadinho, mas eram duas ruas bifurcadas, com uma igrejinha bem na bifurcação de entrada e uma casa estranha, com entrada pelas duas ruas e completamente torta. Nada de ângulos retos! Dizem que é uma casa com arquitetura antroposófica.

Moramos nesta casa por seis meses e, pela sua arquitetura estranha, pela igreja na esquina ou porque o Pedro tinha quase dois anos e estava em um momento especial,  ou por qualquer outro motivo, muitas coisas aconteceram neste período. Muitas!!! Algumas que depois ficaram engraçadas. Todas em um primeiro momento, assustadoras!

Primeiro, uma que foi fora da casa. Saí com meus sobrinhos, meu filho e minha tia. Fomos à uma praça na frente da casa dela, em um bairro chique de São Paulo. Uma praça em Higienópolis que eu não sei por que cargas d'água, tem umas pequenas colunas neoclássicas (sei lá porque acho que são neoclássicas!) de cimento, para enfeitá-la. São baixas, pequenas, e  não tem nenhuma função. Entre duas destas coluninhas, o Pedro passou a cabeça! Aquela linda cabeça. Com a carinha mais adorável do mundo!

Quando vi já existia um clima de pânico! Minha tia já previa que a cabeça não passaria na volta... eu, calmíssima! Afinal, se foi pra frente, vai voltar e passar para atrás. Só que não! A orelha, e vamos combinar que o Pedro puxou a do pai... GRANDE!!! funcionou como trava! A cabeça ficou maior na volta do que na ida!

Eu, tranquilíssima. Afinal, ele estava respirando normalmente, eu estava ali e vendo a carinha dele, nada de pânico! Mas... o pânico do entorno contagia... e de repente a cabeça precisava sair logo! Claro... Chama o bombeiro!!! Não... não chama. Só eu acho que bombeiros podem ajudar com crianças assim como ajudam com gatinhos?!?! Ou isso é só filme americano e aqui bombeiro só apaga incêndio?

Não chamaram o bombeiro, mas outro herói apareceu! O cara da banca de frutas da Praça. Com um martelinho que destruiu as tais das coluninhas neoclássicas!. Danem-se as coluninhas!

Pouco tempo depois, em um dia de sol, de faxina na casa, de janelas abertas em um sobrado alto, quando eu estendia roupa no quintalzinho, Pedro brincando na porta da cozinha, ele fecha a porta e avisa alegre de lá de dentro:
- "Pedu feçou póta"!!!!!
Muito tranquila, respondo do outro lado:
- Fechou, Pepê? Então abre pra mamãe... constatando que ele havia trancado mesmo a porta! E aí a aflição foi aumentando... uma vez que ele só dizia com voz chorosa:
- Num "sabo", mamãe... e ficava cada vez mais choroso e falando mais baixinho... e eu do lado de foro, apavorada em tempos em que não existia celular e que eu não tinha a chave do portão pra sair do quintal.
E ele dentro de casa, com as janelas abertas. Naquela casa alta! Ai, meu Deus!!!! Que medo!

A vantagem de eu estar presa no quintal era a de que o lugar era aberto. E existia uma casa geminada, com quintal igual. Chamei a vizinha! Muitas vezes até que ela me atendeu. Meu único pedido: Por favor, liga para os bombeiros! Tem um bombeiro perto, no Peri-Peri... e ela: Não... bombeiro não é pra isto! Juro que eu tentei convencê-la. Bastante. Mas não adiantava. O Pedro não conversava mais comigo e nesta altura eu só queria que alguém desse jeito de entrar na casa e evitar que ele se machucasse.

Aí ela vem com a incrível ideia:
- Posso arrombar a porta da entrada?
- Claro! Arromba a porta, entra na casa, por favor!!!!

E lá foi ela para a rua de baixo, abrir a porta que ficava na calçada, ao lado do portão da garagem. Acho que ela não demorou muito. Eu fiquei grudada na porta da cozinha, falando com o Pedro, sem saber se ele estava ali, porque não respondia mais...

Quando abriram a porta para que eu entrasse, vi, aliviada, que ele estava escondidinho embaixo da pia. Com medo, assustado... Mas aliviado ao me ver ao seu lado. E eu agradecendo a vizinha que se negou a chamar o bombeiro, mas que deu conta de abrir a porta.

Fui acompanhá-la até a porta... com o Pedro no colo e grata...  Aí vejo o tal do arrombamento: ela derrubou minha porta a machadadas!!!!! Um machado enorme, que ela usou para cortar um terço da porta, até alcançar a maçaneta.

Quando eu vi o tamanho do machado usado só conseguia pensar no risco do Pedro ter descido e estar colado nesta porta... ela teria sido o Freddy Kruger! Ela mataria o meu nenê com uma machadada!!!! E não chamou o bombeiro!!!! E eu agradecendo a heroína...

Passamos aquela noite - Pedro e eu - sozinhos em uma casa com a porta de entrada arrombada. Gastamos na compra de outra porta um dinheiro que não tínhamos. E eu me pergunto até hoje porque tamanha resistência para se chamar o bombeiro?!?

O Pedro ainda me daria um susto bem maior. Muito mais assustador. Mas também ainda me traria fortes emoções com a sua mágica. Mas estas são outras histórias...


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Agora sim, porque Martha, irmã de Maria

Pensando sobre os motivos que me levam a escrever estas confissões, memórias, desabafos...

O que me moveu no início foi o desejo de contar mais de mim aos meus amados mais próximos. Registrar os meus sentimentos e experiências para que meus filhos, meus netos, meus amigos, pudessem ler e aproveitar alguma coisa deles. Claro que, de quebra, o desejo de que me entendessem melhor, se solidarizassem, participassem de uma forma mais próxima da minha vida.

Eu sempre rabisquei coisas e sempre quis ser mais disciplinada e frequente nestes registros. Mas nunca consegui ter confiança ou constância. Parece que o gatilho foi o Marcelo Rubens Paiva. Vi uma entrevista dele em que ele comenta que muita gente diz ter vontade de escrever ao ler seu livro "Ainda estou aqui", Fiquei bobamente surpresa! Pensei que só teria acontecido comigo. Sou uma dessas pessoas. A vontade já estava lá, mas a emoção de ler sua história, tão pessoal, escrita de uma forma tão honesta, simples, bonita e parecendo até fácil, me motivou!

Os dois primeiros textos deste blog saíram neste momento, em que eu lia o livro. Quase que ao mesmo tempo eles brotaram e foram aparecendo em palavras escritas em um "tablet", com um terrível teclado "touch". Mas foi quase incontrolável escrever e escrever... e chorar escrevendo e relendo o que tinha escrito.

Agora me cobro que outros textos apareçam da mesma forma, com a mesma emoção. Não acontece. Não é assim. Talvez eu deva reler o livro do Marcelo!

Mas, talvez sem tanta emoção, mas não com menos verdade, outras histórias se (des)constroem nas minhas memórias e pedem pra ser contadas. Ou são cobradas.

Tenho dois pedidos para contar por que o blog tem este nome: Martha, irmã de Maria. Então, vamos lá.

“ Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa.Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lucas 10:38-42)


Esta Marta te lembra alguém? Me lembra tanto a mim mesma que eu volto a pensar no "peso dos nomes".

Há controvérsias sobre a escolha do meu nome. Quando minha mãe estava grávida do primeiro filho, havia uma certeza infundada - em tempos sem ultrasom - de que seria uma menina. Nome escolhido desde logo e de comum acordo, ela se chamaria Heloísa.

Nasceu um menino. Luiz Fernando. Nome herdado do desejo do meu avô materno, que teve três filhas e sempre esperou pelo Luiz Fernando.

Quatro anos depois, na segunda gravidez, chega a menina. Diz meu pai que quando foi fazer o registro perguntou à minha mãe qual seria o nome, certo de que seria Heloísa. E ela respondeu rapidamente: Martha. Com te-agá para distinguir do animal. A Heloísa tinha ficado no passado... esperaria trinta e quatro anos para vir.

Sendo minha mãe de uma família presbiteriana, frequentei a escola dominical e devo ter conhecido a história de Marta, irmã de Maria e de Lázaro (este mais conhecido, não é?) ainda pequena, mas será que a história me influenciou? Será que uma história bíblica ouvida pequena influenciaria tanto a personalidade de alguém? Acho que não.

Mas o fato é que eu sou esta pessoa, que corre de um lado para outro, que cuida da casa, que não escolheu a "boa parte"...

Tá certo que eu gosto tanto do serviço de casa, de ser a "dona de casa", de receber as pessoas, que penso se não é esta uma "boa parte".

Mas o fato é este: sou de uma geração de Martas. Quando entrei na faculdade, só na minha turma eramos quatro. Mas a maior parte das Martas - com teagá ou não - se identificava com o fato de ter o mesmo nome da Martha Rocha, a Miss Brasil que perdeu o Miss Universo por duas polegadas em 1954. Eu não... minha identificação ficou por conta da Marta bíblica, a irmã de Maria.