quinta-feira, 12 de maio de 2016

Dias tristes, momentos de decisão...

Alguns dias me parecem especialmente tristes. Dias com o céu nublado, cinza, plúmbeo, como aprendi em alguma leitura e nunca me esqueci porque foi feita justamente quando o céu me parecia especialmente de chumbo, logo depois da morte da minha mãe. Claro que o céu cinza, nublado, ameaçando uma chuva triste, tem participação no estado de espírito.

Mas será só isso? Minha tristeza não terá a ver também com os sonhos que não me lembro, mas que devem povoar as minhas noites? Não terá a ver com o meu sono, quase sempre cortado por muitos despertares? Não terá a ver com o momento de vida, em que muitos medos me assolam? Não terá a ver com esta tal desta consciência da finitude que parece chegar querendo ou não quando entramos ou nos aproximamos da terceira idade? E grita na sua cabeça que esta será a sua terceira e última etapa por aqui. 

Esse medo não é - eu penso - da morte ou do que acontece depois dela. O medo é de quando ela virá e se até lá terei dado conta de tudo. Sairei da vida para entrar na História? Não nesta História maiúscula, do Getúlio, mas na história daqueles que ficam e que interferi ou coadjuvei as vidas. Sairei sem deixar dívidas? Não só financeiras, mas muito mais que isto, dívidas emocionais...
Fiz as pazes com aqueles que queria ter feito? Dei atenção para aqueles que amo? Compreendi e deixei claro que compreendi melhor aqueles que pensam diferente de mim? Deixei meus filhos seguros do tanto que são amados e da importância que tiveram para a minha felicidade? E apesar disto, deixarei ao mundo pessoas que sabem que não são o centro do mundo e que tem responsabilidades?

Sairei sem ter dívidas comigo mesma? Conseguirei zerar o meu débito com a menina que fui, com a mulher que sou? Conseguirei nos próximos anos ser a pessoa que sou genuinamente e não a que acredito que os outros esperam que eu seja? Serei quem quero ser, mais do que quem querem que eu seja?

Quero viver bastante. Mas, como todo mundo, quero viver com qualidade de vida. E isto não significa só saúde. Algumas coisas são fundamentais!

Independência pra mim é fundamental. Não depender financeiramente de ninguém. Ser capaz de cuidar das minhas coisinhas: contas, casa, comida, eu mesma. Poder estar sozinha. Não o tempo todo, mas algum tempo. Um bom tempo.

Poder ler, escrever, cozinhar, assistir filmes, arrumar minha casa. Poder passear um pouco. Talvez umas viagens gostosas e não muito longas. Um cineminha com as amigas. Uma exposição bonita.

Dar conta de brincar e conversar com os netos. Com os filhos e sobrinhos também. Com os amigos.

Mas antes de chegar a esse momento em que me ocuparei apenas destas coisas tão pessoais e me dedicarei integralmente a minha própria vida, preciso de alguns anos ainda produtivos, que me rendam dinheiro, pra poder vir a ter esta independência. E aí me dou conta, de que preciso para isso ser fiel aos meus propósitos e princípios de sempre: só funciono se movida por acreditar no que faço! Preciso de paixão! Preciso de confiança! Preciso acreditar no que faço e considerar minhas tarefas importantes. É assim que me encontro...  

Um comentário:

  1. Como me identifiquei, Martutcha! Estas são as questões que importam de fato. Mas nem todo mundo chega nelas tão rápido. Eu mesma ainda estou no caminho. Parabéns! Pelo texto e pelas dúvidas. Elas dão a dimensão de quem é você, minha amiga.

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