terça-feira, 10 de setembro de 2024

Modorra e potência

 Serviço de casa sempre existe. Nem é preciso esforço para encontrar o que fazer em uma casa, por mais organizada e limpa que ela seja. E se você gosta destes serviços e confessa isso a todos, não se preocupe, é garantia de nunca faltarão e existirão em abundância.

Mas se você quiser participar mais disso, basta se manter na mesma casa em que finalmente cada filho pode ter o seu quarto, mesmo nenhum deles o utilize por mais do que uma ou duas vezes por semana, para dormir ou para deixar um rastro de presença. Basta assumir que sua lavanderia é familiar e dali as roupas só sairão lavadas e passadas. Basta ter como forma de reunir a todos e manter a união familiar, fazer o almoço dos domingos e se responsabilizar por tudo nele: resolver o cardápio, fazer as compras, limpar e arrumar a casa para receber, cozinhar, servir e depois arrumar toda a bagunça que ficou... 

Tudo isso pode ser feito verdadeiramente com prazer! Desfrutando da alegria de ver tudo em ordem, as pessoas amadas felizes e alimentadas, as roupas cheirosas... 

Mas em meio a esta felicidade pode começar a surgir um mau-humor, um incômodo, uma sensação de mesmice e desconforto... Uma modorra... uma falta de vontade... a inevitável sensação de espera...

Mas este tempo também tem lugar para o seu café com livro das manhãs, a possibilidade de maratonar séries na TV. Muito bom. Mas e as idas ao cinema? Há quanto tempo não acontecem? E visitas ás pessoas queridas, e a ideia de visitar ao menos um museu, galeria, ou seja o que for por mês? E as questões adiadas para resolver na rua?

E quando o sair desta casa tão boa e com tantas coisas para fazer te impede de sair para uma última despedida? 

Se habituar com a mesmice, com uma rotina pouco criativa e produtiva, com a ausência de mudanças é uma forma de apenas se colocar à espera. Uma espera agradável e tranquila, mas uma espera pouco potente. A espera de que alguém precise de alguma coisa  que te faça mover, a espera de um convite irrecusável, em última instância: a espera de que não haja mais nada a ser feito.

E então a despedida a que você não foi, o livro que te dá tanto prazer, o pó  que se acumula nas estantes por mais que você esteja sempre em atividade limpando, tudo isso te chama pra vida. Para a necessidade de tomar as rédeas, de ter atitude, de confiar no seu potencial e na sua potência. É hora de (re)tomar a vida nas mãos! De contar com ela e honrá-la!