segunda-feira, 11 de setembro de 2023

A mentira da pobreza e seus reflexos

As vezes eu guardo um título. Só o título. Foi o que aconteceu com este. E agora ao ler eu comecei a rir pensando: O que você quis dizer com este título empolado, cara pálida?!

Não tinha nem ideia! Mas aí me lembrei e achei que se este texto não sair logo e não ficar perto do "Peso dos Nomes", ele não fará sentido algum!

Esta lembrança ficou aqui porque muita gente riu das minhas referências à minha pobreza. Como pobre?! Nascida em berço de prata. Pai funcionário público de nível superior; mãe normalista, cantora, pianista autodidata, dona de casa por opção e possibilidade.

Estudei em colégio particular a vida inteira - ops! a vida inteira não: cumpri com o esperado. bem preparada pela escola particular fiz faculdade pública, claro... - morei em casa própria a maior parte da vida, poucas vezes me afligi por não ter como pagar minhas contas e mesmo nestes momentos de apuro, em que eu mesma já era responsável pela minha vida financeira, nunca faltou absolutamente nada de fundamental na minha casa e eu sempre soube que apertando a necessidade teria a quem recorrer. As vezes sofri mais por orgulho do que por necessidade.

Então, por que na constituição do "patinho feio" o termo "pobre" aparece tantas vezes? Pela culpa socialista? Afinal, já que desigualdade social é muito ruim, ter dinheiro também é, então, melhor ser pobre. Mas se fosse isso eu não teria culpa. Se repeti para me convencer e liberar, não deu certo. A culpa continuou comigo por muitos anos. E ainda é bem confusa a minha relação de como se pode ou não ganhar dinheiro. Em geral acho e defendo que dinheiro justo vem de muito suor, de perseverança, de paciência, de alguma subordinação, de muito aprendizado, Se for ganho com prazer, tanto melhor. Mas se houver mais prazer que sacrifício, natural que não seja muito alto o ganho.

Da mesma forma, melhor que seja salário. A paga pelo trabalho de sol a sol, por um tempo determinado. Trabalhou, ganhou. Não trabalhou, não ganhou.

Mas a sensação de ser a "pobre", estava sempre muito próxima do ser a "coitadinha". E como ser acusada de me colocar neste lugar me ofendeu tantas vezes! E ofendeu porque não fui acusada quando me coloquei de forma quase mentirosa como "pobre", mas sim quando declarei sentimentos, me queixei por me sentir aviltada, desrespeitada, infeliz ou magoada.

Depois de anos de terapia parece que começo a entender um pouco melhor esta posição. A minha dificuldade em colocar minha indignação de forma mais dura, mais firme, cobrando e exigindo respeito e não chorando pela falta dele. Fui acusada de me fazer de vítima por não ter coragem nunca de atacar e enquadrar os algozes. Eles não deixam de ser algozes porque eu os amo ou admiro. Que trabalho difícil que é aprender a estabelecer limites. Não permitir que me tratem com injustiça e ainda invertam fazendo de mim a culpada por ser atacada. Como é difícil não me responsabilizar pelas coisas que não são minha responsabilidade.

15.janeiro.2016



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