segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Perdas. E ganhos.

 Meus pais morreram em agosto. Ela no dia três. Em 1972. Eu tinha acabado de completar treze anos. Foi um mês de chuva, de céu cinza carregado de nuvens. Um mês de dias tristes. No rádio tocava Águas de março. E minhas lágrimas formavam as águas de agosto. Na TV a novela das oito era Selva de Pedra. Triste também, embora eu só me lembre disso: que era triste, que tocava Rock and roll lullaby e que eu amava o ator João Paulo Adour. Foi um tempo de muita solidão. Um tempo de muitas leituras. De sonhos estranhos e consoladores. De paixões platônicas. Foi um tempo de medo e insegurança. 

Quase cinquenta anos depois meu pai morreu no dia 18 de agosto de 2021. Em um ano em que enfrentamos uma pandemia e um governo autoritário e ensandecido. Longe dos 13 anos da primeira grande perda, agora me acostumo ao fato de ser uma senhora. Legalmente uma idosa. Este agosto foi bem mais solar. Apesar de alguns dias bem frios, teve pouca chuva e eu não estive sozinha, mesmo com todas as restrições ao convívio social. Não tive sonhos consoladores, fiz leituras mais preguiçosas e tento olhar mais pra dentro de mim mesma. 


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