segunda-feira, 11 de setembro de 2023

O canário

Eu nunca me lembro dos meus sonhos. Chego até a pensar que não sonho. As vezes eu me lembro ao acordar, mas quando penso em contar pra alguém a lembrança já foi embora!
Mas este sonho marcou. Não só me lembrava perfeitamente dele, com detalhes, como queria muito contar, achando que ele não fazia muito sentido.
Sonhei que estava na minha casa de infância. Um sobrado grande onde cresci e onde passei por momentos muitos felizes (a entrada na escola, as brincadeiras de criança, a entrada na faculdade, as tardes de conversa com amigos queridos da escola, a visão do quintal vizinho, onde em uma festa aconteceu meu primeiro beijo) e outros muito tristes (a morte da minha mãe, os desentendimentos com meu pai, o grande susto com o Pedro, quando já não morava mais lá).
Coincidentemente - ou não - esta casa também é o cenário de sonhos que tinha com frequência na adolescência: o sonho assustador da minha fuga de um perseguidor desconhecido de quem eu corria pela rua até entrar em casa pela lateral, quase aliviada e segura, mas que ao subir a escada do quintal para a cozinha eu tropeçava e me transformava em presa fácil do algoz. Acordava em pânico, sem identificar o desconhecido. Também sonhava com meus frequentes pesadelos de enfrentamento de altura. Precisando sair da casa pela janela do meu quarto, que dá para a mesma descida lateral e deve ter uns seis metros de altura.
Mas voltando ao sonho do canário. Sonhei que estava na casa. Tenho uma idade não muito clara e também não sei muito bem o que estava fazendo lá, mas me lembro de repente com um grande susto, do canário. Um canário que eu me lembro existir preso em uma gaiola na área de serviço, lá embaixo. Um canário que era minha obrigação cuidar. Mas que me esqueci e não cuidei. Corro para o lugar da gaiola e lá está ele: morto. Morto por negligencia, por esquecimento, por irresponsabilidade. Minha. Minha irresponsabilidade.

Texto escrito em junho de 2016. O sonho aconteceu no começo de 2013 e graças a ele resolvi voltar a fazer terapia. Graças a terapia e a análise deste sonho no final do ano fui para a Europa e no retorno mudei de casa! 2013 foi um ano inesquecível!

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