domingo, 24 de setembro de 2023

Varais

Imagino que daqui a alguns anos ninguém vá saber mais o que são varais! E eu tenho tantas boas lembranças de varais de roupa.

Roupa lavada me leva sempre a lembranças do passado: o quarador que existia no enorme quintal da casa da minha tia. Os varais das casas em que morei... lembranças soltas, curtas, cada uma de um lugar: um sapo que dormia no tanque da minha casa de infância e que provavelmente me deixou com um grande medo de sapos que persiste até hoje; o varal da minha deliciosa casinha no Jardim Esther e a terrível pancada que levei na testa passando por baixo dos varais e das roupas penduradas e levantando com tudo em uma porta de armário que eu mesma deixei aberta; a terrível e nauseante lembrança do cheiro de amaciante - absoluta novidade da época - misturado com um horrível cheiro de carniça, efeito do "Mil Gatos", veneno que matou a ratazana que se escondia na minha máquina de lavar! URGH!!!!!

Ufa, pronto... voltando as boas lembranças...

A mais antiga e forte é a da Dona Wanda. Xará da minha mãe, a dona Wanda era uma portuguesa que morava na casa exatamente em frente a minha. Uma casa simples e antiga, construída no alto de um barranco (provavelmente nem tão alto e nem tão barranco, mas é a memória de uma menina de cinco, seis anos) onde moravam dona Wanda, seu marido e dois filhos: Manoel e Maurício, este último o meu primeiro amor...

Dona Wanda era em muita coisa o oposto da minha mãe: usava roupas simples, era nada vaidosa - talvez não tivesse oportunidade de ser - e eu me lembro dela no tanque, lavando roupas incansavelmente. Tenho a impressão de que eu me sentava por perto e a observava, querendo ser como ela no futuro, ou ter como ela aquela grande habilidade e disposição. Não  sei se de fato isto aconteceu, se fiquei lá observando. Não me lembro de conversar com ela, então talvez tenha sido só uma imagem, que gravei para sempre. Um momento tão importante em que estive na casa do menino que eu sonhava que seria meu marido no futuro.

Não me lembro mais do Maurício e nem do que aconteceu com esta família. Não me lembro quando mudaram ou quando a casa foi vendida, ou quem a ocupou depois. Ficou na minha lembrança apenas a imagem da dona Wanda e a admiração e ternura que senti por ela naquele momento e que perdurou por toda a minha vida.


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